sábado, 24 de junho de 2017

Abre os teus olhos e não deixes passar detalhes poéticos ……



Abre os teus olhos e não deixes passar detalhes poéticos ……

É fim de uma tarde de outono, há uma nuvem enorme cor de rosa no céu e tudo em volta dela é amarelo ouro, um céu de baunilha brilha em cima de tua cabeça e tu não a vês. Absorvida pelo telemóvel, perdeste um o show lindo e gratuito.
As paredes descascadas de azulejos daquela casa antiga onde tu passas todos os dias formam desenhos de bichos e rostos; a janela toda partida da mesma casa parece  uma moldura para um jardim selvagem, mas tu, imersa em preocupações, nunca olhaste  para o lado, porque não perdes tempo com terrenos baldios. No mesmo caminho ainda, há uma porta aberta para um pequeno café velho, degradado,  antigo e nojento onde  uma senhora idosa, talvez a dona do estabelecimento, toma chá numa cadeira de baloiço,  tornando-se parte do insólito lugar. Mas a ti  não te interessas por lugares tão escondidos e feios, roupas tão velhas e sujas e pessoas que já saíram de moda.
Na estrada para a praia, olhando pela janela do carro, tudo parece monótono, mas as várias espécies de plantas – heras, amoras silvestres e outras,  trepadeiras….. emaranham-se, crescem, sobem umas nas outras, confundindo-se, criando um mutualismo loucamente português em vários tons de verde e ainda por cima nasce uma flor roxa no meio. Olha que bonito, mas tu  não a viste porque, impacientemente, matavas o tempo no transito…. .
Tens um amigo em casa que fez o jantar, colocou folhinhas de manjericão colhidas na hora em cima de um  simples esparguete com ketchup,  nem olhaste para o prato que engoliste quase sem paladar. Esse amigo beijou os teus olhos e as tuas mãos quando tu te queixaste que estava cansada, mas tu não tinha mais energia para sentires nada e perceber aquele  gesto de carinho, tão amoroso !!!   .
Uma criança insiste em chamar a tua atenção, subindo e descendo um banco à tua frente, consegues  quase distraíste, mas respiras fundo, expiras a monotonia que vem de dentro e voltas a  embrenhares-te nas  nuvens densas e importantes dos teus pensamentos. Desenharam um coração no céu, mas tu só consegues ficar mergulhada na lembrança do teu coração amachucado. Tanta coisa a ser resolvida, tanta coisa a ser digerida, é preciso focares-te no que importa, é preciso seguir rápido, é preciso pensar no amor, no trabalho, nas conquistas a serem atingidas, nas frustrações de não teres chegado aonde querias….. mas ainda, é preciso não te deixares  perder nas pequenas coisas, o tempo urge, a vida é curta, as pessoas se atropelam, a corrida é injusta, a canseira toma conta do teu corpo e da  tua alma. É preciso ver a vida a preto e branco por todos os lados cegos que se olha até que, depois de muita luta, conquistes finalmente o direito de te libertares e apreciar as singelezas da vida. Se é que até lá o teu olhar saberá encantar-se novamente…..

Mas agora, a tua vida, os detalhes, a as pequenas belezas... ficam para quem tem tempo de se permitir ser criança para sempre. Não é mesmo isso? Estás de acordo comigo?..ou nem por isso....

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